O primeiro dia do Mundial de Natação Paralímpica começou com a presença da bandeira brasileira em cinco das 11 finais em que os atletas do país disputaram na segunda-feira (9/9). Na mítica piscina do Parque Olímpico de Londres, foram dois ouros, com o multimedalhista Daniel Dias, na classe S5, e o estreante brasiliense Wendell Belarmino (S11), ambos nos 50m livre, além de duas pratas e um bronze.
Com os resultados, o Brasil aparece em sexto lugar no quadro de medalhas. A Rússia lidera, com quatro ouros, três pratas e quatro bronzes. Grã-Bretanha, Itália, Ucrânia, Itália e Estados Unidos amealharam três ouros cada e estão à frente do Brasil.
Enquanto Daniel Dias acumula conquistas douradas, o Mundial de natação traz gratas surpresas ao movimento paralímpico nacional. Um deles foi o responsável pelo primeiro ouro do país. O brasiliense Wendell Belarmino Pereira, morador de Sobradinho, que treina na piscina do Centro Olímpico da UnB, tem 21 anos, pertence à classe S11 (para cegos) e chegou à final dos 50m livre com o quinto melhor tempo. Mas com uma boa largada e muita resistência nos metros finais, conseguiu concluir a prova em 26s20, apenas cinco centésimos à frente do russo Kirill Belousov, então líder do ranking mundial.
"Não consigo explicar a felicidade, cheguei ao Mundial sem pretensão, talvez uma prata ou bronze. Mas veio o ouro no meu primeiro Mundial, no meu primeiro dia, sem palavras", comentou o atleta, que nasceu com glaucoma e desde 2016 pratica natação. Na piscina olímpica de Londres, ele nada ainda os 100m livre, 400m livre e 200m medley.
Wendell foi um dos grandes medalhistas brasileiros nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, encerrados no início deste mês. Trouxe na bagagem quatro ouros e duas pratas, além de quatro recordes da competição. A marca que estabeleceu no Mundial de Londres é 88 centésimos mais rápida do que a que lhe rendeu o ouro no torneio continental.
Daniel Dias supera mudanças na reclassificação e leva o ouro
A medalha de Daniel Dias foi obtida de forma eletrizante. Ele não teve a melhor largada, mas nos metros finais recuperou-se para chegar em primeiro. Ao confirmar a vitória, com o tempo de 31s83, o melhor da carreira nesta prova, vibrou batendo com os dois braços na água. Até então, o recorde pessoal era 31s86.
A marca deveria ser o novo recorde mundial, mas devido ao recém-revisado processo de classificação funcional em curso pelo IPC (Comitê Paralímpico Internacional, na sigla em inglês), o melhor tempo do mundo nos 50m livre da classe S5 é 30s16, do italiano Antonio Fantin. O atleta europeu, contudo, disputa a classe S6, para competidores com menor grau de comprometimento físico-motor, e foi campeão Mundial também ontem nos 400m da S6, minutos antes de Daniel Dias triunfar nos 50m livre. O Comitê Paralímpico Brasileiro contesta a forma e o procedimento adotados pelo IPC na classificação funcional da natação.
"Eu sabia que este Mundial seria muito difícil, mas começar melhorando minha marca e com medalha de ouro, é só gratidão. Era para ser novo recorde mundial, mas foi recorde das Américas. Viemos de uma preparação muito forte, o Parapan foi bom para isso. Agora, é só agradecer a Deus e à família pelo apoio", disse o nadador de Campinas, que nasceu com má formação em três membros.