COLUNA TIRO LIVRE

A volta de quem nunca se foi

Não é exagero dizer que Fred pode até ter passado um longo tempo distante do Cruzeiro, mas o Cruzeiro, em si, nunca saiu dele

postado em 19/01/2018 12:00 / atualizado em 19/01/2018 09:33

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Quando Fred pisou o gramado do Mineirão na noite de quarta-feira a impressão é de que ele nunca havia saído do Cruzeiro. Os 12 anos que separaram a despedida e o retorno do atacante à Toca da Raposa II mais pareciam questão de minutos, horas, quiçá dias. Mero lapso do tempo. Nesse período, ele exerceu seu faro de goleador em outras paragens, caiu nas graças de torcedores de Lyon e do Fluminense, aventurou-se até a atravessar a lagoa e fazer morada no grande rival celeste, o Atlético. Mas nada foi tão forte quanto a afinidade de Fred com a camisa azul. Por isso, não é exagero dizer que ele pode até ter passado um longo tempo distante do clube, mas o clube, em si, nunca saiu dele.

Quer uma prova? Quantos gols marcados na Raposa Fred absteve-se de comemorar? Quantas vezes, sobretudo com a camisa do tricolor carioca, em BH ou mesmo no Rio, ele mandou a bola para o fundo da rede e se negou a festejar com os companheiros? Chamava de respeito ao ex-clube, mas quem conhece as coisas do coração sabe: é amor mesmo.

Quis o destino que, logo em sua primeira partida pelo Galo, em pleno Dia dos Namorados de 2016, o adversário fosse justamente o Cruzeiro. Numa tentativa de enterrar o passado e entrar de corpo e alma no novo relacionamento, Fred teve atuação de gala: fez gol, festejou com a Massa e ainda protagonizou um lance dos mais inusitados ao esconder um chinelo atirado por um torcedor no campo do Independência. Ficou a sensação de que uma sintonia estava nascendo ali e que o romance engrenaria – como de fato engrenou –, mas faltou aquela magia que marca os encontros especiais. O famoso brilho no olhar.

Ninguém pode dizer que Fred não tentou. Ele se dedicou integralmente a esta paixão, investiu nela toda a sua devoção, mas quando é amor de verdade, meus caros, não tem jeito. O sujeito acaba se rendendo e se entregando a ele novamente, por mais que fuja durante certo tempo, teimando em não aceitar a realidade. E assim aconteceu com o atacante.

Por isso, no dia do tão aguardado reencontro, os olhos das 42 mil pessoas que estavam no Gigante da Pampulha estavam voltados para Fred. E para as redes véu de noiva, que, cabalisticamente ou não, também retornavam ao estádio naquele 17 de janeiro de 2018. Todos à espera da junção entre eles. Que não veio.

O Cruzeiro ganhou, a torcida comemorou gols, mas ainda não foram os de Fred. E olha que ele esteve bem perto, muito perto mesmo, naqueles tipos de lance que você diz que até você faria. Porém, ficou no quase. E atacante que se preza não se contenta com o quase. Podem estar certos de que Fred não se contentou. O próprio retrospecto dele está aí para provar.

Foi a primeira vez que o atacante não mandou a bola para o fundo da rede em uma estreia. Desde o América, era esse o roteiro. Aos 18 anos, em seu primeiro jogo como profissional do Coelho, garantiu o triunfo por 2 a 1 sobre o Guarani de Divinópolis. Em sua primeira passagem pelo Cruzeiro, saiu do banco para marcar o segundo gol celeste nos 2 a 0 sobre o Internacional. No Lyon, fez dois logo de cara, contra o Monaco. No Fluminense, mais dois, só que no Macaé. No Galo, aquele script surreal do Horto.

Era natural, portanto, acreditar que na volta ao Cruzeiro também seria assim. Só que não foi. Ficou adiado. Possivelmente, não para amanhã, contra a Caldense, em Poços de Caldas, já que o técnico Mano Menezes avisou que vai rodar o time até que todos estejam num nível semelhante de condição física. Tudo leva a crer que a próxima oportunidade de Fred será de novo no Mineirão, na quarta-feira, contra o Uberlândia. A contagem regressiva está reaberta.

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