LONGA RECUPERAÇÃO
postado em 05/07/2014 08:04
Do ponto de vista médico, a fratura sofrida por Neymar, aos 41 minutos do segundo tempo da vitória contra a Colômbia, não é grave. Apesar de danos na coluna serem sempre motivo de preocupação, fraturas na terceira vértebra lombar têm poucas chances de causar lesões neurológicas. Sem necessidade de cirurgia, o número 10 do Brasil usará uma cinta para imobilizar o local e poderá seguir com a Seleção, se assim desejar.
Já para a tristeza — dele e de milhões de torcedores — não haverá alívio imediato. A cinta, que controla a dor física de Neymar e permitirá sua presença no banco de reservas, não traz solução para o maior dos problemas: abandonar o sonho de protagonizar seu primeiro título mundial, caso o Brasil chegue ao hexa. Para essa dor, que não se mede, nenhum remédio pode ser preescrito. O médico da Confederação Brasileira de Futebol Rodrigo Lasmar confirmou que o jogador não terá condições de seguir na competição.
Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que a recuperação para esse tipo de fratura leva, em média, 40 dias. Na primeira semana, o lesionado fica com a região imobilizada e já é possível realizar sessões de fisioterapia para diminuir a dor, combinando com medicamentos analgésicos. Na segunda ou terceira semana, começa a fase de reabilitação muscular. Só depois, o jogador pode voltar a treinar em campo.
“São quatro a seis semanas para a dor cessar totalmente. Para voltar a trabalhar com bola, são necessários, normalmente, cerca de 30 dias. Para movimentos mais complexos, como os do futebol, que exigem girar o tronco, são mais de 40 dias”, avalia o ortopedista Paulo Lobo, presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia no Esporte. “Isso não impede que ele se recupere antes, claro. Depende muito de atleta para atleta.”
Anderson Freitas, também ortopedista, lembra que jogadores são pacientes de recuperação mais rápida, normalmente, e afirma que o local da fratura não preocupa tanto. “Nessa altura da coluna, são pouco frequentes lesões neurológicas, por conta da distância dessa vértebra, não chegando a atingir um ramo neurológico (que fica na região central). Mas qualquer tipo de fratura leva tempo longo de repouso”, explica.
Os primeiros dias, justamente o tempo que falta para o fim da Copa do Mundo, são os mais importantes para a recuperação. “A imobilização completa, com a cinta, é essencial para diminuir os danos. Na primeira semana, um tratamento crioterápico (baseado na aplicação de gelo) ou mesmo eletroterápico, com o uso de corrente elétrica para aliviar a dor, pode fazer o quadro evoluir bem no início”, pontua o fisioterapeuta João Durigan, professor da Universidade de Brasília.
Neymar embarcou de volta para o Rio de Janeiro com a Seleção, ainda na noite de ontem, e vai realizar novos exames. Só depois o médico da CBF Rodrigo Lasmar terá o diagnóstico completo. Por ora, a previsão é de que o tratamento dure até seis semanas.
"São quatro a seis semanas para a dor cessar totalmente. Para voltar a trabalhar com bola, são necessários, normalmente, cerca de 30 dias. Para movimentos mais complexos, como os do futebol, que exigem girar o tronco, são mais de 40 dias”
Paulo Lobo, ortopedista, presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia no Esporte
"Antes de entrar nessa jogada, eu não estava pensando em fazer mal, mas sim em defender a camisa do meu país" Zúñiga, lateral-direito da Colômbia
Zúñiga: “Foi um lance normal”
A vitória por 2 x 1 sobre a Colômbia foi a despedida de Neymar da Copa do Mundo. Instantes após a confirmação da lesão do craque, o lateral-direito Zúñiga negou que tenha entrado na jogada com a intenção de machucar o atacante brasileiro.
Nos minutos finais da partida, o colombiano acertou uma joelhada nas costas de Neymar. Substituído pelo zagueiro Henrique, o atacante deixou o Castelão chorando e seguiu para o hospital. Com uma fratura na terceira vértebra lombar, ele está fora do torneio.
“Era um jogo em que nós queríamos conseguir um bom resultado, queríamos marcar. A partida estava um pouco quente. O Brasil estava entrando forte, assim como a gente”, disse Zúñiga. “Então, foi um lance normal. Esperamos que não seja nada grave, com a ajuda de Deus.”
Embora não seja complexa, a fratura limita os movimentos e provoca dores. “Antes de entrar nessa jogada, eu não estava pensando em fazer mal, mas sim em defender a camisa do meu país”, afirmou. “Lamentavelmente, aconteceu isso. Esperamos que ele se recupere e volte, porque é um talento para o Brasil e para o mundo.”
Torcedores ameaçam colombiano
Revoltados com a agressão de Zúñiga, torcedores exaltados encheram o Instagram do colombiano de xingamentos e ofensas. Boa parte pede para que o atleta deixe o Brasil o quanto antes e o acusam de ser covarde. Uma das fotos chega a ter mais de seis mil comentários. Há, inclusive, ofensas raciais e ameaças.
O lateral que virou vilão
Maíra Nunes - Especial para o Correio
Há três meses, era o colombiano Juan Camilo Zúñiga, 28 anos, quem estava afastado dos gramados por lesão. A contusão do lateral-direito ocorreu no joelho. E, por ironia, foi exatamente com uma joelhada nas costas de Neymar que o jogador da Colômbia se tornou o vilão da Copa do Mundo para os brasileiros.
Zúñiga não teve dó do jogador que pode ser seu futuro companheiro de time. O colombiano é especulado como possível substituto de Daniel Alves no Barcelona. A habilidade e o poderoso chute de média distância o credenciam como reforço para um dos maiores clubes da Europa. Foram as boas atuações no Napoli, da Itália, que chamaram a atenção do clube catalão. Zúñiga é um lateral-direito ofensivo e um atleta versátil, tendo atuado tanto pela direita quanto pela esquerda e até como zagueiro.
Pela seleção colombiana, jogou quatro partidas do Mundial, ficando de fora apenas do jogo contra o Japão pela fase de grupos. No total, o camisa 18 cometeu apenas quatro faltas e não recebeu nenhum cartão na competição. Nem mesmo na entrada maldosa em cima de Neymar, quando o árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo nem sequer marcou falta no lance.
Juan Camilo Zúñiga Mosquera, 28 anos, iniciou a carreira de jogador no Atlético Nacional de Medelín em 2005. No mesmo ano, integrou a seleção colombiana sub-20 e subiu para a equipe principal. Antes de ir para o futebol italiano, foi três vezes campeão do Campeonato Colombiano, além de ter participado de 129 confrontos e marcado nove gols nos três anos que atuou na Colômbia.
Chegou à Itália vestindo a camisa do Siena, no qual passou apenas uma temporada. Depois, se destacou no Napoli. Pela seleção de seu país, atuou em duas edições da Copa América, em 2007 e 2011, e participou da campanha colombiana nas Eliminatórias para a Copa no Brasil.